• Berlinde de Bruyckere

    Atravessar uma ponte em chamas (no MNAA)

Berlinde de Bruyckere
Atravessar uma ponte em chamas

Atravessar uma ponte em chamas
, título da exposição temporária de Berlinde De Bruyckere que inaugura o Museu de Arte Contemporânea/CCB, foi retirado de um conto do escritor chileno Roberto Bolaño. Imagem poderosa e sugestiva do risco da passagem de uma margem a outra, é também simbólica da atração pelo outro e do medo do outro, da transformação e da metamorfose, e do trauma que qualquer processo de migração implica.
Berlinde De Bruyckere tem vindo a desenvolver trabalho no campo da escultura, do desenho, da colagem e da instalação em torno das grandes temáticas da arte: a morte, a redenção, o sexo, a dor e a memória. Inspirada na figura intermediária do anjo, esta exposição propõe uma reflexão sobre a relação com o outro, seja como transcendência, como fisicalidade do toque ou como projeção pessoal. Na sequência das salas da exposição, a artista explora estes temas em obras de diferentes momentos do seu trabalho, olhando para a sua potência erótica e a sua ambiguidade.
Ancorada na história da arte — nomeadamente na pintura renascentista —, a obra de Berlinde De Bruyckere liga arquétipos existentes a novas narrativas, redescobrindo temáticas, obsessões ou recorrências do mundo das imagens que povoam a nossa memória coletiva.
Para a concretização desse diálogo entre tempos históricos, o Museu Nacional de Arte Antiga cedeu a pintura de Lucas Cranach Salomé com a cabeça de São João Batista, 1510, que confronta a obra Infinitum II, 2017–2019. Continuando este diálogo, a exposição inclui também um polo no Museu Nacional de Arte Antiga, onde será instalada a obra Liggende — Arcangelo I, 2023, apresentada na sala dedicada a Francisco de Zurbarán (1598–1664), pintor barroco espanhol cuja obra é referência recorrente para a artista. A escultura, representando um anjo caído (portanto, uma entidade que passou da transcendência à imanência), sendo apresentada no contexto do diálogo com o misticismo da pintura de Zurbarán (presente nos retratos que se tentam libertar da mundanidade terrena), realiza, mais uma vez, o mesmo circuito ambíguo e de vaivém que a exposição propõe. A obra possui, ainda, um outro aspeto importante: as suas dimensões reproduzem as do túmulo de Vasco da Gama no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

Inauguração
MAC/CCB | 28 outubro 15h30
MNAA | 28 outubro 18h


2023 Berlinde De Bruyckere

Berlinde De Bruyckere
Liggende — Arcangelo I, 2022–2023
Cera, pelo de animal, têxteis, linho, zinco, madeira, ferro, epóxi
Cortesia da artista e Hauser & Wirth
Fotogragfia: Mirjam Devriendt


Folha de sala
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