Nascido em Sevilha, em 1617, Murillo foi um dos mais importantes nomes do Barroco espanhol. O seu naturalismo sereno, íntimo e transcendente, traduz uma sensibilidade e espiritualidade muito próprias do seu tempo, em que a experiência religiosa passava também pela contemplação da beleza e doçura divinas. Entre as suas obras devocionais, as imagens dedicadas à divina infância foram das mais populares, ao servir um encontro empático, quase amoroso, com um sagrado tornado humano. O Bom Pastor do Museu do Prado, obra da fase madura do pintor, é uma das expressões mais exemplares desse encontro, no seu misto de lirismo e piedade.

Num primeiro olhar, a imagem de um menino acompanhado pelo seu rebanho parece ser apenas uma visão de inocência pastoril, onde as ruínas da paisagem evocam a nostalgia de um passado perdido. Mas esta visão bucólica, quase arcadiana, encerra importantes significados religiosos. As ruínas são aqui símbolo de um mundo pagão vencido pelo cristianismo, e o Menino é afinal uma hábil reinvenção de uma célebre parábola bíblica: a de Cristo como Bom Pastor. Aquele que guia e protege o rebanho, resgatando o animal que se extravia, mas também aquele que dá a vida pelas suas ovelhas. Através de uma paleta delicada e uma mestria na utilização do desenho, da luz e da cor, Murillo consegue transmitir emotivamente toda essa dimensão devocional e dramática, no contraste entre a doçura infantil do Menino e o seu olhar grave e determinado, que nos fita diretamente.

INAUGURAÇÃO
30 novembro, 17h30



Bartolomé Esteban Murillo (Sevilha, 1617-1682), O Bom Pastor, c. 1660, Óleo sobre tela, 123 × 101,7 cm, Madrid, Museo Nacional del Prado, inv. P000962 | ©Museo Nacional del Prado


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