• ALMADA NEGREIROS E OS PAINÉIS DE SÃO VICENTE

    Um retábulo imaginado para o Mosteiro da Batalha

Almada Negreiros (1893-1970) é uma figura maior do modernismo português. Dedicou-se ao desenho, à pintura, à literatura, ao teatro, e, ao longo dos anos, à procura de um fundamento universal para a criação artística. Foi na geometria que encontrou uma ferramenta para estudar as manifestações artísticas de épocas passadas e, ao mesmo tempo, uma inspiração para o seu próprio trabalho.
Ao longo de décadas, Almada elaborou uma proposta de agregação de múltiplas pinturas deste Museu, imaginando-as num retábulo único, que incluía os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves. Baseando-se em pressupostos geométricos, definiu o posicionamento das obras, sugerindo que o seu destino original seria a Capela do Fundador, no Mosteiro da Batalha. Esta sua investigação resultou numa produção ímpar, esbatendo fronteiras entre investigação e criação de arte.
Recentemente, algumas das suas obras foram objeto de estudo por parte de investigadores das áreas da matemática e das belas-artes, interessados na compreensão dos traçados geométricos em causa, o que permitiu o restauro da obra até hoje inédita Estudo em fio dos painéis de São Vicente (1950), para esta ocasião. Nesta sala expõem-se ainda Os quinze painéis na Capela do Fundador (1960), obra nunca antes apresentada na sua forma completa, e dois desenhos, também inéditos, que mostram como a partir de uma pintura do Museu Ecce Homo Almada Negreiros desenvolveu o seu caminho para a abstração.

Comissário
Simão Palmeirim