O projeto de Estudo, Conservação e Restauro dos Relevos Quinhentistas do Mosteiro da Esperança no MNAA resulta do protocolo mecenático celebrado entre o Museu, o Grupo dos Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga, a Direção-Geral do Património Cultural e a Fundação Millennium bcp. A primeira fase, a concluir no final de 2022, contempla o painel da Lamentação de Jesus Cristo, prevendo-se intervenção posterior no painel do Milagre de Santa Clara, que terá início em 2023.
A equipa de trabalho coordenada pelos técnicos do MNAA integra historiadores de arte, conservadores-restauradores e cientistas do património, contando também com uma conservadora-restauradora contratada e com a participação e consultoria dos conservadores-restauradores do Laboratório José de Figueiredo. A relevância do projeto para o conhecimento e valorização do património nacional foi reconhecida pela infraestrutura E-RIHS.PT (European Research Infrastructure for Heritage Science) que, através dos programas PT-MOLAB e PT-FIXLAB executados pelos técnicos do Laboratório Hércules da Universidade de Évora, permite o recurso à instrumentação e a sistemas analíticos de ponta que acompanham o processo da intervenção. O pioneirismo e o caráter ímpar destas esculturas em Portugal que o projeto tem revelado foram reconhecidos como tema a investigar, com a atribuição de uma bolsa de doutoramento FCT-DGPC.
O público tem oportunidade de entrever o desenvolvimento e a evolução do projeto até à sua conclusão. Desenvolvendo-se em estaleiro, diretamente sobre os Painéis aplicados nos muros do hall das Janelas Verdes do MNAA, o processo de revitalização das formas e das cores da escultura pode ser seguido até à redescoberta final, quando as obras reintegrarem o discurso museológico das coleções do MNAA.
Os «Painéis da Esperança» no MNAA
Em 1891, três painéis de grandes dimensões esculpidos em relevo foram apeados da sala do capítulo do extinto Convento de Nossa Senhora da Piedade da Esperança, em Lisboa, e entregues pela Câmara Municipal ao Museu Nacional de Belas Artes e Archeologia, antepassado do MNAA. À data foram identificados como um Cristo descido da Cruz, outro como a representação do Milagre de Santa Clara perante os exércitos de Frederico III e o terceiro como São Francisco recebendo os estigmas. A operação, já na época entendida como muito delicada, terá ocasionado a perda do painel que representava São Francisco, desfeito durante o apeamento. Os dois painéis restantes ficaram expostos em permanência, aplicados nas duas paredes do lado sul do átrio do Palácio das Janelas Verdes, frente às portas de entrada no Museu, pelo menos desde 1911, sendo doravante obras de referência na identidade museal deste espaço. Foram classificados como esculturas espanholas em barro cozido e policromado, variando a sua datação entre o século XVIe o século XVII, consoante os autores.
À mercê das necessidades de espaço museográfico do MNAA, nas últimas décadas, a apresentação ao público dos monumentais relevos foi entrecortada, ficando muito tempo ocultados por painéis que comprometeram a sua visibilidade e a sua conservação.
O caráter único no património nacional português e nas coleções do MNAA destas esculturas quinhentistas artisticamente notáveis – esculturas monumentais em relevo policromado filiadas na estética do Renascimento Ao Romano –, resultantes de uma encomenda do círculo da rainha D. Catarina de Habsburgo, na segunda metade do século XVI, (c. 1560) – tornaram inadiáveis as intervenções de conservação, restauro, investigação e musealização.
A especial complexidade técnica dos painéis esculpidos em relevo modelado e moldado, em gesso e argamassa, conservados em grande parte com o acabamento pictórico original, motivou o desenvolvimento do projeto em várias fases, iniciando-se com a investigação científica pluridisciplinar do painel que representa a Lamentação de Jesus Cristo. Incluíram-se os levantamentos fotográficos, gráficos e históricos, enquanto elementos documentais da obra, a caracterização dos materiais e das técnicas de produção, antecedendo a definição do critério e a execução da intervenção de conservação e restauro. Idêntica arquitetura projetual, com similar investigação e metodologia de trabalhos, será aplicada ao painel do Milagre de Santa Clara.
Agora, no painel da Lamentação trabalha-se na estabilização dos processos de deterioração dos materiais constituintes e na destituição das alterações provocadas por mudanças estéticas e culturais, de época recente, tendo como objetivo a reposição dos valores cromáticos mais próximos da execução da escultura. Estão concluídas as ações de preservação do suporte, através da consolidação e da fixação das argamassas e das volumetrias modeladas de estuque; a remoção de preenchimentos adulteradores e a respetiva substituição, e a colmatação de lacunas através de critérios rigorosos de respeito pela integridade da obra. A limpeza das superfícies, que consiste fundamentalmente na remoção das alterações cromáticas apostas em épocas recentes, como as repinturas e as pátinas artificiais, encontra-se na sua fase final. Prevê-se a conclusão definitiva dos trabalhos com a reintegração cromática de lacunas de policromia durante o mês de janeiro de 2023.
Mecenas do projeto
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Mecenas do projeto de restauro
Sobre a Fundação Millennium bcp
A Fundação Millennium bcp é uma parceira de longa data do Museu Nacional de Arte Antiga no que concerne ao apoio concedido a importantes projetos nas mais variadas áreas, tanto em contexto expositivo como em campanhas de conservação, estudo e investigação levadas a cabo pelo MNAA. São exemplos deste apoio inestimável a campanha de crowdfunding para a aquisição da pintura Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira, na qual contribuiu para a respetiva campanha de conservação e restauro, e a sua parceria no protocolo mecenático, juntamente com a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), com vista ao restauro dos Painéis de São Vicente, obra maior da pintura portuguesa.